“Senti uma paz muito grande no meu coração”, afirma uma idosa. “Eu vi lá filosofia, autoconhecimento, uma coisa que a gente sente falta. E também uma sensação de relaxamento, da energia que vem da natureza. Um momento de terapia espiritual”, diz outro. No começo do mês, escrevi sobre um ensaio clínico mostrando como a realidade virtual era uma aliada dos cuidados paliativos para pacientes com câncer. Logo recebi mensagens sobre iniciativas brasileiras que utilizavam a mesma tecnologia com propósitos semelhantes. Na coluna de terça, apresentei o trabalho de alunos e ex-alunos da UNIRIO com doentes internados no hospital universitário. Hoje é a vez da história do cineasta Filipe Gontijo e do publicitário Henrique Siqueira, sócios da Caixote Histórias Imersivas, que abraçaram a realidade virtual como uma forma de criação artística. As duas declarações no começo do texto são de idosos que experimentaram a RV.Zen, uma ideia que surgiu na pandemia. O isolamento os levou a pensar em algo voltado para os mais velhos, o grupo mais impactado pela quarentena. Já tinham feito inclusive um documentário em RV, e o passo seguinte foi a ideia de uma série que não se restringisse a imagens, sendo enriquecida com áudios:
“Criamos nove episódios com paisagens exuberantes e cada um deles tem um narrador bem especial. São autores ou pensadores, como o poeta Fabrício Carpinejar, monja Coen, a médica Ana Claudia Quintana Arantes, especializada em cuidados paliativos, e o pastor Caio Fabio. Cada um criou seu próprio texto e apenas fazíamos pequenas observações para que o resultado se adequasse ao ambiente de realidade virtual”, explica o cineasta.
Gontijo acrescenta que a realidade virtual demanda uma narrativa própria, diferente da do cinema ou do teatro, e que muitos se enganam achando que o objetivo é fazer um simulador: “não se trata de colocar um capacete e ter a sensação de estar numa montanha-russa. Isso só deixa as pessoas enjoadas e as afasta da RV”. Siqueira completa: “são tantos os estímulos, visuais e auditivos, que qualquer um realmente fica imerso e se desliga do que está fora. Procuramos trabalhar com um tripé no qual tenhamos a sensação da presença, uma narrativa que faça sentido e empatia”.
O projeto ficou pronto no meio de 2022 e a “estreia” foi numa instituição de longa permanência para idosos do Distrito Federal. A receptividade foi tão boa que a dupla estendeu a experiência para as estações de metrô. Gontijo e Siqueira agora querem levar a primeira temporada do RV.Zen (sim, haverá uma segunda!) para outros estados e instituições. Também decidiram disponibilizar gratuitamente o conteúdo para todos que quiserem utilizá-lo com fins terapêuticos, desde que as exibições não sejam para fins lucrativos.
Saiba mais em: https://www.instagram.com/caixotexr/
Fonte: G1 Bem Estar