Eu sempre gostei muito de estudar, e quando entrei no curso da área da saúde senti a real necessidade de me aprofundar em assuntos não só da grade curricular, mas àqueles que sempre me chamam atenção. Vejo que todo saber nunca é demais. Assim, em 2019, conheci a Liga Acadêmica de Tanatologia e Cuidados Paliativos. As ligas, de forma resumida, são entidades dentro da faculdade que aprofundam de forma teórico-prático algum assunto pouco abordado na graduação.
Se você procurar no Google encontrará que: o termo “tanatologia” vem do grego “Thanatus”, que na mitologia grega é o nome dado ao deus da morte. Já o sufixo “logia”, significa “estudo”. Tanatologia, então, etimologicamente, corresponde ao estudo da morte.
O termo ‘Cuidados Paliativos’ é mais conhecido, aposto que você já ouviu falar na televisão, em hospitais ou conhece alguém que tenha passado por esse processo. São práticas assistenciais a pacientes com alguma doença grave, progressiva e que ameaça a continuidade de sua vida. Esses cuidados vão além do que qualquer curso na área da saúde nos ensina, aborda as dimensões sociais, espirituais, emocionais e físicas.
Agora você deve estar se perguntando o porquê quis me aprofundar nesse assunto, né? Pra ser sincera eu temia falar sobre a morte, assim como muitas pessoas. Isso acontece pois discorrer sobre isso vem carregado de sentimentos, medos, angústias, dúvidas, dos famosos “porquês” e pensamentos: pensamos naquela pessoa que temos medo de perder, por não sabermos o que acontece depois da morte ou nos questionamentos: “como assim tal pessoa morreu agora? assim?”. Pois é, são questões enraizadas na nossa cultura e não se sintam mal por isso, pelo contrário, assim como Nietzsche, eu também acreditava que o Homem tolera qualquer ‘como’ se tiver um ‘porquê’.
Essa última frase que você leu, guiou os meus pensamentos quando a li no livro “A Morte é Um dia Que Vale a Pena Viver”. Aliás recomendo, é o meu livro preferido e citarei ele por aqui várias vezes. Foi após essa leitura que os meus estudos começaram acerca desse assunto, não para encontrar respostas (até porque nunca teremos) mas para discutir e ampliar a minha visão sobre a morte, e que por fim aprendi mesmo foi sobre a Vida.
Ana Claudia Quintana Arantes, médica e paliativista, autora do livro, diz que “é só pela consciência da morte que nos apressamos em construir esse ser que deveríamos ser.” Então, convido você a pensar nos seguintes pontos: qual o legado você quer deixar nessa vida? Gostaria de ser lembrado como?
Vale a pena dedicar 100% do seu tempo para o seu trabalho? Vale a pena o seu desgaste por algo supérfluo? Essas e outras reflexões partem de que “muita gente não está viva de fato, mesmo com o corpo funcionando bem. É uma coisa terrível. Pessoas que enterraram suas dimensões emocional, familiar, social e espiritual.
Gente que não sabe se relacionar, que tem dificuldade de viver bem, sem culpas nem medos. Gente que prefere não acreditar para não correr o risco de se decepcionar, seja em relação ao outro, seja em relação a Deus. Gente que não confia, não entrega, não permite, não perdoa, não abençoa. Gente viva que vive de um jeito morto. Temos mortos andando livres nas academias de ginástica, nos bares, nos almoços de família de comercial de margarina, desperdiçando domingos por meses a fio.
Gente que reclama de tudo e de todos. Gente que perpetua a própria dor se entorpecendo com drogas, álcool ou antidepressivos, tentando se proteger da tristeza de não se saber capaz de sentir alegria. […] ‘Em um contexto onde as pessoas não têm a chance de perceber que estão vivas, o cheiro característico da morte está mais presente. Mas onde a morte está, de verdade, a vida se manifesta.”
Assim, convido-o para se aproximar sobre os assuntos sobre a morte para se aproximar ainda mais da vida. A sua vida. Essa que não pode ser escrita por mais ninguém, somente você.
Rafaela Negretti, 23 anos, é determinada e está sempre aberta para o novo. Atualmente cursa fonoaudiologia na Unicamp.
Fonte: Hora Campinas
Uma resposta
Adorei! Simples assim!