Artigo de autoria da Dra Ana Claudia Quintana Arantes, publicado no dia 13 de abril de 2018, no blog Letra de Médico, da Revista Veja.
Conversar sobre a morte, deixar virem reflexões sobre o sentido de morrer, entregar-se aos sobressaltos de sentimentos difíceis. Respeitarei os seus silêncios durante a minha escrita. São necessários para as reflexões que eu gostaria que nascessem dentro de você.
Em alguns momentos serei direta, e minhas palavras podem ferir seus olhos. E você fechará o livro. Mas sei que voltará, e seguiremos o caminho de onde paramos, ou talvez até recuaremos uma ou duas esquinas (ou páginas). Todos nós vamos morrer um dia. Mas, durante a vida, nos preparamos para as possibilidades que ela pode proporcionar. Sonhamos com nosso futuro e vamos à luta. Sonhos tão humanos de ter uma carreira, uma família, um amor ou vários, filhos, casa própria, viagens, ser alguém na nossa vida ou na vida de alguém.
Buscamos orientação somente para as coisas mais incertas. Quem garante que vamos ter sucesso na carreira? Quem garante que encontraremos o amor da nossa vida? Quem garante que teremos filhos ou não? Quem garante? Ninguém garante nada sobre essas possibilidades. Mas a morte é garantida. Não importa quantos anos viveremos, quantos diplomas teremos, qual o tamanho da família que formaremos. Com ou sem amor, com ou sem filhos, com ou sem dinheiro, o fim de tudo, a morte, chegará.
E por que não nos preparamos? Por não conversamos abertamente sobre essa única certeza?
O medo, os preconceitos, a fragilidade que essa conversa expõe são maiores do que a nossa vontade de libertação desses temores. Há tempos na nossa vida onde as palavras não chegam. Tempos onde entramos em contato com o que há de mais profundo em nós mesmos, buscando respostas, sentidos, verdade. O tempo de morrer é um desses momentos. Rilke, em Cartas a um jovem poeta, traz aquela que é, na minha opinião, a mais sublime explicação para o que vivenciamos no final da vida.
Seja como expectadores, seja como protagonistas, a morte é um espaço onde as palavras não chegam. Tem momentos que vivi acompanhando pacientes na sua fronteira da vida que jamais poderiam ser traduzidos fielmente em palavras. O indizível é a melhor expressão da experiência de vivenciar a morte. Na vida humana, talvez somente a experiência de nascer possa ser tão intensa quanto o processo de morte. E talvez seja por isso mesmo que tememos tanto esse tempo. O mais inquietante é que todos nós passaremos por ela ou acompanharemos a morte de quem amamos.
Trecho extraído do livro – A Morte é um dia que vale a pena viver, de minha autoria, da editora Casa da Palavra
Respostas de 5
Estou vivendo este momento e não sei como ajudar minha amada mãe a passar por este momento tão dificil da vida, a morte. Estou exausta é muito sofrido. As vzs me sinto egoísta por me sentir assim pois que mais sofre e ela com certeza pois vive intensamente esta doença que consome com o corpo dela. Triste.
Gostaria que existisse um curso específico para técnicos de enfermagem que queiram se especializar na área de tratamento paliativo.
Estou interessada em adquirir o livro: A morte é um dia que vale a pena viver”. Como faço? Pois alguns sites eu entro é da como indisponível.
Oi Ana Cláudia! Você pode comprar aqui no nosso site mesmo pagando via Paagseguro: https://www.humanavida.com.br/a-morte-e-um-dia-que-vale-pena-viver/ Um abraço, Equipe Humana Vida
Li o livro A morte é um dia que vale a pena viver e o conteúdo desse livro maravilhoso veio para me ajudar a a amenizar a dor do luto vivido.
Hoje faz 1 Mês e 23 dias que meu pai me deixou e foi morar com Deus. A dor é imensurável, não consigo aceitar a partida dele, sinto que minha alma se rasgou de tanta dor da ausência dele.
alguns dias são piores ainda, pois tento me enganar que esse dia não chegou pra mim. Mas a dor é real, a dor existe e essa é minha realidade, não posso fugir ou fingir que não vivo esse momento.
o mais me mata um pouco em cada dia é o NUNCA MAIS.
Nunca mais vou ver
nunca mais vou conversar
nunca mais vou abraçar
nunca mais vou cuidar
nunca mais vou ouvir
nunca mais vou sentir a presença
nunca mais vou ter noticias…. E como dói saber que quem amamos não vai voltar, e que não podemos saber mais nada desse amor que nos foi tomado.
A vida segue mas não com antes, não tem como tudo voltar ao normal, pois aquela pessoa já não vem mais ao seu encontro.
As pessoas vão mentir ao dizer que tudo passará, mas não vai passar, na verdade nós só vamos apender a conviver com a dor e com ausência da pessoa que se foi.
Nada volta a ser como antes. Tudo é diferente aprendemos a resignificar a vida que nos é imposta daqui pra frente.
Vou seguir sim, mas com alma rasgada de dor e saudades.