E quem cuida de quem cuida?

“Queira o bem de todos os seres. Isso inclui você.”

Monja Coen

Desde que nascemos estamos sendo cuidados. E, por mais independentes que sejamos ao longo da vida, chegará o momento em que precisaremos de alguém ao nosso lado para nos fornecer assistência.

Se você é profissional da saúde, trabalha cuidando de pessoas doentes ou está assistindo algum familiar adoecido, esse texto veio ao seu encontro em um bom momento.

Seja por escolha ou pela inevitabilidade da vida, imagino que, muitas vezes, o trabalho de cuidar seja bastante exaustivo. Falo isso porque, mesmo diante todos esses anos atuando como médica, há momentos que sim, me sinto cansada: e está tudo bem. Não sou uma espécie de super-heroína inabalável e incapaz de sentir os baques da profissão que escolhi.

Nem você.

Quem cuida sabe que o conhecimento técnico não é o suficiente. Não basta saber trocar uma fralda, preparar um alimento adequado ou fazer um curativo: estamos lidando com pessoas, suas histórias e seus sentimentos. Por trás de um diagnóstico há toda uma vida a ser contada e memórias a serem honradas. Sendo assim, é inevitável não nos envolvermos emocionalmente com quem está sob nossos cuidados. Não existe a possibilidade de chegarmos em casa e simplesmente desligarmos o botãozinho que nos conecta com aquela pessoa.

Torcemos pela melhora, por dias melhores. Mas, infelizmente, há muitos casos difíceis em que não há nada que possamos fazer a não ser CUIDAR da maneira mais íntegra e presente possível.

Há situações em que estamos tão entrelaçados com as pessoas que cuidamos que deixamos de lado uma parte de nós. Aquele espaço de nós que gosta de caminhar no final do dia, que se alimenta de forma saudável, que lê bons livros antes de deitar-se. Estamos tão obstinados a cuidar que a pessoa mais importante de nossas vidas fica em segundo plano: nós mesmos.

Isso é bem comum de acontecer. Mas é preciso se prevenir para evitar o esgotamento do corpo e da alma. Dedique-se ao seu trabalho com toda a amorosidade que existe dentro de você, mas lembre das coisas que gosta e que te fazem feliz. Olhe com mais carinho para dentro de si.

Quando estamos alinhados com o que nos faz bem, somos capazes de expressarmos o melhor de nós e de nos dedicarmos ao cuidado com o corpo e a mente saudáveis.

Como eu disse, não há um botão de liga e desliga. Mas precisamos avaliar o quanto essas histórias estão impactando nossa saúde emocional. Por vezes se faz necessário um suporte psicológico, por exemplo. E não há problema nenhum nisso: isso não é sinal de fraqueza, muito pelo contrário. É sinal que você cuida de você.

Cuidamos do outro por amor, por necessidade, por respeito e por compaixão. E é isso que merecemos também.

Respostas de 15

  1. Muito obrigada pelo texto! Estava precisando muito destas palavras. Trabalho em UTI Neonatal e não tem como não se apegar aos bebês que as vezes passam meses sob nossos cuidados, e por vezes, a sensação de perda é como de alguém da família (com a diferença da impotência por não ter sido capaz de evitar apesar da minha profissão). Enfim, suas palavras em ajudam a enxergar meus sentimentos e entendê-los melhor. Mais uma vez muito obrigada!

  2. Esse texto chegou no momento certo. Estou cuidando da minha sogra de 98 anos. Não tem doença, só o corpo já cansado de viver. Aprendendo todo dia como cuidar. Dra Ana tenho colocado alguns ensinamentos dos seus livros. Sempre relendo e me fortalecendo. Obrigada por me fortalecer com seu conhecimento e acordar todos os dias com a disposição de cuidar do outro. Bjs.

  3. Exatamente assim doutora! Mas as vezes é tão sério que chego a me sentir culpada em pensar em mim…..sendo que meu paciente está sofrendo tanto!! Sou cuidadora e amo o que faço. Tem vezes
    que estou com muita dor e qndo se aproxima o horário do meu plantão , a dor some …não sei explicar como , mas simplesmente , desaparece!

    1. Oi Tania! O seu trabalho é importantíssimo, mas para que você possa fazê-lo com excelência, também é essencial cuidar de si mesmo com atenção. ❤️
      Agradecemos o seu comentário.
      Equipe ACQA.

  4. Ana Claudia, esse seu texto veio no momento certo pra mim, muito obrigada. As vezes, por lealdade à situação difícil dos que amamos, escolhemos a dificuldade nas nossas próprias vidas. Tudo por amor, claro. Mas isso não honra o outro nem é útil pra nós. Bom saber e ouvir suas palavras.
    Um grande abraço,
    Mariana

  5. 18 anos cuidando do meu pai e mais 3 anos cuidando da minha,mãe, início de demência e cá de pâncreas..que faleceu ha 5 meses,.total de quase 20,anos em que me tornei mãe dos meus pais… resultado; estresse, piora da,diabetes tipo 2 e por último sindrome de taksubo. E depressão e vivendo o lutoAgora, correndo,atrás do prejuízo aos 64 anos. Só não enlouqueci pois faço terapia há alguns anos
    E o pior. Quero morar longe dos meus filhos e netos que amo de paixão porque não quero o que tive para eles , sou fisio há 42 anos.. parei minha vida pessoal e profissional nos últimos anos..muitas vezes o lado financeiro pesa e cuidadores não soa a opção, rede de apoio não existiu no meu caso.Estiu em processo de ” voltar a vida” aprendendo a dizer não agora.Antes tarde do que nunca.
    Difícil muito difícil.mas acabou. Agora é pensar em mim.
    ..

    1. Olá, Laura! Receba todo o nosso carinho. ❤️ Com certeza não é fácil, que bom que você está em um processo tão importante e necessário de cuidar de si com mais amor e atenção. Agradecemos o seu comentário!
      Equipe ACQA.

  6. Bom dia !!
    Ótimo seu artigo, Ana Cláudia !!
    Sou enfermeira há 31 anos. Amo minha profissão. Amo o barulho diário da enfermaria. Amo os pacientes . Faço cada cuidado como se fossem meus familiares.E são, meus irmãos . Até os dificeis..😆
    Procuro levar alegria, Fé, meu amor, meu conhecimento profissional e Cristão.
    E estou começando à cuidar de mim agora… 55 anos.
    E vivendo uma dicotomia : quero acompanhar de perto minha família, sogra,mãe.. filhas !! 🫢 Fazer crochê, dança ,a liberdade de ir e vir quando quiser pro encontro da Igreja, pra praia ,
    pra esquina…😄
    As vezes ao chegar no trabalho , tenho vontade de sair , ir embora , angústia de dar um passo e ser solicitada : mudança de decúbito, dor de cabeça, transferência, admissão, higiene do paciente, crise convulsiva, resolver a pia, o vaso entupido, o transporte para casa , pedir o relatório, o remédio., ouvir o desabafo, acudir o engasgo, e só ir embora. Depois saio deste lugar de angustia e tudo volta ao “normal” .
    Existe a possibilidade de me aposentar
    agora. Mas o medo de sentir falta do trabalho, dos pacientes, do movimento diário, da copa ..🫢 da diferença do salário !!
    Seria bom abordar em algum momento algo assim. Como nos organizar para este momento tão necessário em nossas vidas.
    Planejamento . Inclusive o financeiro , desde início da profissão, menos ansiedade, menos PÃO !! 🫣
    Para que possamos aumentar o número de pessoas realizadas e em Paz.
    Quero terminar de ler seus livros !! 🤗🤷🏻‍♀️.
    Abçs, que Deus a ilumine sempre !

    1. Olá, Márcia! Agradecemos por compartilhar o seu relato aqui no comentário. Vamos anotar a sugestão para abordar em um próximo artigo! ❤️
      Com carinho,
      Equipe ACQA.

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