O forró de Falamansa invade o CTI (Centro de Terapia Intensitva) onde Taty está internada. Esta é a conexão afetiva que a paciente de 41 anos tem com o mundo fora da Santa Casa da Capital. Se pudesse, ela com certeza dançaria cantarolando a música favorita para todo mundo ouvir.
Apaixonada, é na família que Taty encontra o “amor maior”, e se apega aos versos da Bíblia, mais precisamente nos Salmos 121, onde diz: “Levanto os meus olhos para os montes e peço: de onde me virá auxílio? Meu auxílio vem do Senhor, que fez os céus e a terra”.
As informações parecem poucas, mas são fundamentais para tratar com carinho quem está na recuperação da covid-19 ou internada no CTI do trauma. Na cama de cada paciente, um papel escrito a mão traz o apelido como Taty responde aos amigos e familiares, além da música preferida e seu lema de vida.
Já adotado em outros hospitais e inclusive mostrado aqui no Campo Grande News, dentro do HU, hoje é a Santa Casa que abre o que tem sido a trilha sonora onde os cuidados com os pacientes são intensivos.
Com ritmos variados, paciente e equipe ouvem de samba, sertanejo até o gospel depois da implantação do “prontuário afetivo”. A ideia é focar além das questões técnicas de evolução do paciente, como alergias, medicamentos, horários de refeições, e enxergar ali uma pessoa que ama e é amada.
Implantado em maio deste ano, no CTI da covid e também do Trauma, o prontuário afetivo deve ganhar espaço nos demais setores, em especial de cuidados paliativos. A justificativa é ser mais presente e humano possível, já que visitas de familiares estão cada vez mais restritas pela pandemia.
Psicóloga da Santa Casa, Alexandra Nascimento é quem coloca para os pacientes ouvirem as músicas preferidas. Ela explica que o prontuário além dos termos médicos apresenta para a equipe quem é aquela pessoa e como é a vida dela fora dali. A estratégia de humanização tem conseguido resultados bem positivos.
“A equipe consegue perceber a influência no tratamento do paciente quando aborda temas que ele gosta; a família, se sente mais confortável sabendo do atendimento humanizado que seu ente querido está recebendo; e o paciente se sente mais acolhido e apresenta uma melhor recuperação”’, ressalta.
A iniciativa se tornou o Projeto de Lei 2136/2020, que ficou conhecida como Lei Ana Claudia Arantes, e hoje tramita na Câmara Federal, que prevê a garantia direito de expressão de afeto, de fortalecer o tratamento humanizado, respeito à dignidade da pessoa humana e não somente ao direito de dizer adeus.
Hospital Universitário – Na UTI do HU, os familiares vem repassando informações preciosas para a equipe médica que vão muito além do histórico de saúde. Ali, desde fevereiro o prontuário afetivo toma à frente dos leitos, e vem trazendo boas respostas.
“É uma observação clínica, mas notamos que os pacientes tendem, nesses momentos de vínculo – citando o nome de algum familiar, por exemplo – a ficarem mais tranquilos”, explicou a terapeuta ocupacional Janaína Siman Naki.
Nesta quarta-feira (16), a Secretaria Estadual de Saúde divulgou que Mato Grosso do Sul tem nada menos do que 551 pacientes internados pela covid-19 em leitos do SUS.
Fonte: Campo Grande News